Sem precisar colocar a sola do sapato na lama, o governador Carlos Moisés contemplou, do alto, nesta quinta-feira (5), o drama de milhares de famílias atingidas pela enchente – vergonhosamente agravada pelas próprias autoridades públicas no Alto Vale do Itajaí (SC).
O confortável sobrevoo – em um helicóptero que pertence ao povo e bancado pelos impostos dos catarinenses -, deu carona ao chefe da Defesa Civil, David Busarello, em uma visita oficial que tentou passar empatia, mas deixou novas promessas vazias de mitigação a cheias na região.
Sem apresentar nenhum cronograma de construção das represas aguardadas a décadas, Moisés disse: “Vamos avançar em mais pequenas barragens para reduzir a recorrência e mitigar, no limite da ação humana, os eventos da Natureza”.
Enquanto apenas a construção da barragem de Botuverá, fora do Alto Vale, poderá começar a virar realidade no segundo semestre, os prazos para início das obras de seis outras represas projetadas para amenizar desastres naturais em Pouso Redondo (2), Agrolândia (2), Mirim Doce (1) e Petrolândia (1) permanecem sendo uma incógnita.
Com palavras ensaboadas, o governador se esquivou. “O evento [‘enchente facilitada’] mostra que estas pautas têm de estar sempre presentes”, redundou em entrevista coletiva. Enquanto pensa estar no “caminho” ao tirar da gaveta o projeto de Botuverá, a área mais crítica continua refém da ladainha de “fazer planos para o futuro”, de acordo com a própria declaração de Moisés.
A verdade é que essas represas já faziam parte de ‘planos do passado’, algo que o governador não pode negar que também sabe muito bem.
Enrolação: ‘sete novas barragens’; alguém viu?
Custeados pelo dinheiro dos pagadores de impostos, estudos da JICA indicaram a necessidade de construção de mais sete barragens de pequeno e médio portes no Vale do Itajaí, seis delas no Alto Vale.
A cooperação técnica iniciou ainda em 2009 entre o governo catarinense e a Agência de Cooperação Internacional do Japão.
Em 2016, a imprensa estadual noticiava: “Lançada licitação para erguer duas novas barragens no Alto Vale do Itajaí”. Em Mirim Doce a estrutura seria erguida no rio Taió, afluente do rio Itajaí-Oeste, e em Petrolândia, no rio Perimbó.
Seis anos depois, nem com uma lupa você vai encontrá-las. Mas as promessas políticas desavergonhadas, estas estão aí; de novo.
A cara dos políticos
A ‘enchente da vergonha’, como ficará conhecida para sempre a cheia de maio de 2022, foi agravada em municípios como Rio do Sul pela demora na manobra de fechamento das comportas da Barragem Sul, em Ituporanga. O motivo seria a falta de manutenção de duas delas.
A bomba explode diretamente no colo da Defesa Civil Estadual, responsável pela manutenção e operação das represas existentes e pelo encaminhamento das obras das que não saem do papel.
Muitos defendem que as comportas da Barragem Oeste foram trancadas no momento certo. No entanto, se o reservatório de Mirim Doce, onde choveu forte na cabeceira do outro rio, já estivesse pronto, a inundação poderia ter sido amenizada em Taió.
Então, alguém ainda acredita que a culpa é apenas da “Natureza”?
Investigação: cadê os R$ 21 milhões?
Dinheiro federal para obras de recuperação das barragens Norte, Sul e Oeste, pelo visto, não falta.
O problema é saber onde estão os R$ 21 milhões depositados pela União nos cofres catarinenses, segundo o deputado estadual Ivan Naatz (PV).
Estranhamente, Jerry Comper (MDB), Maurício José Eskudlark (PL) e Milton Hobus (PSD) – parlamentares que se dizem representantes da região -, não sairam na frente abordando esse mistério.
Enquanto isso, Naatz afirma que iniciará uma investigação para descobrir o que foi feito com a verba. OUÇA!
Irresponsabilidades, ‘heróis’ e impostores
Procurada pelo portal Alto Vale Agora, a Defesa Civil de Santa Catarina confirmou que é da sua responsabilidade manter e operar as barragens Sul e Oeste, pivôs da crise.
Portanto, a população já pode saber apontar de quem foi a irresponsabilidade que agravou a situação de cidades que ficaram dentro d’água.
E quanto ao deputado estadual Milton Hobus (PSD), ele poderia posar de herói por dizer que “bateu na mesa” para convencer pelo fechamento das comportas em Ituporanga, sendo que foi ele quem mandou construir um radar meteorológico que deveria prever os temporais para permitir mitigar catástrofes? Tendo todo o conhecimento como ex-secretário de Estado de Defesa Civil, por que Hobus não pediu o trancamento das saídas d’água já um dia antes? Por trás do seu suposto ato de heroísmo e fala mansa, não havia a intenção de prejudicar o governo, ainda que às custas do sacrífico da população?
E mais: se havia meteorologista já alertando uma semana antes sobre as chuvas fortes, por que os políticos não agilizaram providências? Promoveram o abandono? Deixaram o caos imperar para, no final, ‘fazer nome’?
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Crédito: Diego Sommer/PMRS
Foto de Capa: Peterson Paul/Secom